quarta-feira, 7 de maio de 2008

Campo de girassóis


Era tão criança que mal sabia da vida e todos seus sonhos se resumiam a algodões doce, passeios de cavalo, contos de fada.
Ainda não havia entendido que todas aquelas estórias só encontrava mesmo em livros belamente ilustrados e que suas princesas não tinham castelos, mas casebres e os príncipes não passavam de aproveitadores desdentados.
Toda aquela magia, em que se inspirava toda a noite pra viver não passava de farsa. Farsa, aquela mania de mostrar ao mundo o que não era, de sempre expor sorrisos, mesmo que nada fizesse sorrir, de imaginar futuros prósperos, mesmo que nada convergisse até ali...
Queria pouco, mas nada tinha, nem fatos, nem perspectivas. Só o campo de girassóis a deliciar-lhe da varanda.
Sempre se perdia por lá, ou se encontrava, nem sabia ao certo.
Ah! Os girassóis, aquele intenso amarelo que preenchia toda a paisagem, ragava tudo com aquela luz radiante. Os girassóis que apontavam sempre pra irradiação de calor.
E nada mais era tão frio.
Se imaginar não tira pedaço ainda lembrava daquele menino torto a quem jurara tanto amor, o menino dos cabelos de girassol, dos olhos de pôr-do-sol. E naquelas tardes quentes em que só sobravam cores ela pensava forte nele, como se por instantes pudessem se unir metafísicamente.
E nada mais parecia afetar, só restavam algodões doces, cavalos, contos de fada. Sumiam todos os casebres e príncipes desdentados, alguém pagara um tratamento dentário a eles.
E ela seguia protagonista, no cume do morro, onde se constroem aquelas cenas de filmes antigos e romanticos, quando os casais saem de extremos diferentes e vão um ao encontro do outro, como se nada mais importasse na vida até apartarem-se as bocas.A menina era assim mesmo, criança.
Quando a noite caia abandonava o campo e seguia pra casa. Dormir com as doces lembranças dos contos que inventara. Com os doces beijos do menino que a abandonara. Com o breve pico nas pernas que aquela planta deixara. E com o bobo sorriso estampado que aquele momento causara.

2 comentários:

Mai Amorim disse...

E ainda tem a audácia de ME pedir produtividade ¬¬'


Liiindo, Ima..

Acho que a tua menina dos girassóis tem pontos em comum com a minha menina atípica. ^^


Será que somos todas meninas dos girassóis?

;**

Flávio A disse...

triste e bonito, porém muito reconfortante o começo. belo texto.